Tem dias
que eu esqueço que eu tenho uma vida. E que minha vida é minha. Que apesar de
não ter pedido para nascer e blá blá blá, eu estou aqui e minha presença no
planeta é legítima. Eu tenho uma vida, ela é minha, estou vivo e posso fazer
dela o que eu bem entender. Posso ir ou ficar, trabalhar ou dormir, ter ou
perder meu emprego. Posso ser autônomo ou empregado, posso ser vegetariano,
budista e torcer pro time que eu bem entender. Porque sou uma pessoa tenho
direitos. Tenho acessos, tenho passos. Pernas que andam e, graças ao bom Deus,
um corpo que funciona em perfeito estado. Posso responder a perguntas,
contestar colocações, posso me calar. Tenho uma cabeça que pensa, conhecimento
repassado e recolhido. E a gente esquece que é DONA, DONO da própria vida. E
que se, amanhã, você decidir fazer um curso de aramaico, raspar careca e
começar a correr, não é da conta de ninguém. Ninguém. A gente vai se
apequenando, se acanhando e como ovelha, vai obedecendo, obedecendo, até perder
o desejo. Um belo dia, como no livro do Leonardo Boff, você, que nasceu águia,
percebe que virou uma galinha tonta. Tonta e obediente. Burra, Maria vai com as
outras. Sem energia para contestar a gente vira um cavalinho bobo de carrossel,
um passarinho de relógio cuco que de hora em hora sai pela portinha por breves
segundos e volta para seu ostracismo. É hora de viver de verdade. O bem maior é
a liberdade.
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