Existir ou Perecer?
Tantas e tantas vezes existe um dor sem nome que
nos corrói e nos leva ao mais profundo dos poços, o poço do desespero,
da saudade, das lembranças de um tempo perdido onde não há mais o que
pensávamos existir, onde existe apenas sombras de um passado distante.
Muitos
dizem que das sombras podem surgir algo, que delas podemos nos
levantar, seguir adiante, nos guiarmos em um mundo de escuridão apenas
com nossa luz interior, seguirmos tropegamente por caminhos tortuosos,
caminhos nunca antes percorridos, que podemos caminhar mesmo estando
feridos, sangrando profusamente. Realmente podemos?
Realmente
podemos caminhar em um mundo onde tudo desmorona e somos parte desse
mundo decadente, não o mundo exterior que caí, mas sim o interior, um
mundo construído com tantos sacrifícios, perdas, dores sem nome,
ferimentos e cicatrizes que nem mesmo nos lembramos à causa devida a dor
sofrida, que nos traumatiza de tal forma que nos obriga a esquecer.
O
passado não deixa de existir, não deixa de nos rondar, como antigos
fantasmas. Sempre rondando com suas correntes amaldiçoadas, perseguindo
seus carrascos que os tentam trancar em escuros porões da memória, que a
cada instante tentam apagar seus corpos insanos e descabidos de uma
força desconhecida e poderosa a qual damos o nome de passado, de ontem.
Como
cúmplice nas noites sombrias e frias, nas quais somos atormentados
pelos fantasmas do passado, em suas raias surgem outros fantasmas, ainda
mais espectrais e difusos, o futuro, o amanhã.
Sendo
ainda mais assustador, pois por mais terríveis que sejam os tormentos
do passado, os conhecemos, conhecemos seus barulhos, suas feridas, suas
formas, seus sangramentos. E o futuro? Como saber as suas formas? Seus
ferimentos? Suas dores? Existe uma forma de nomear um ser sem nome? Uma
mera miragem nas sombras da noite?
Sofrer
por algo que nem mesmo veio atormentar-se por feridas que nem mesmo
aconteceram. Qual dos fantasmas é o pior? O do passado ou o do futuro?
Não
há palavras para descrever o quão vasto é o medo, as sensações nas
noites escuras. O insano torpor dos híbridos tormentos humanos. Dessa
vastidão que assusta exatamente por não se poder ver os limites, os
limites dessa planície, totalmente desprotegido, açoitado pelos ventos,
pelos doces ramos da brisa.
O vazio continua
crescendo, continua ganhando seus espaço. Um buraco negro pode engolir a
si mesmo? Tragar sua própria existência? Talvez nos portais do tempo o
maior dos segredos seja tragar a si mesmo para o vazio do nada. Para o
esquecimento eterno, e talvez seja simplesmente lembrar-se, lembrar-se
de todos os momentos pequenos que nem ao menos nos damos conta de sua
grande importância. Permanecermos eternamente presos em pequenos hiatos
de boas memórias.
Um dia ainda poderei
responder a essas perguntas. Mas agora apenas posso fazer as perguntas e
quem sabe as perguntas certas possam me levar aos caminhos certos, a
uma jornada que mesmo não obtendo as respostas posso obter o
aprendizado, posso obter a mim mesmo.
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